Desenvolvimento com a Globalização?


Façamos um pequeno exercício de reflexão: é verdade ou não que o crescimento/desenvolvimento de uns foi sempre, ao longo da história, à custa da exploração de outros? Fixemo-nos nos países ditos desenvolvidos, quanta da sua riqueza foi acumulada apoiada na política da canhoneira. Nós Portugueses podemos ver com um olhar mais isento o que foi a nossa "epopeia dos descobrimentos".

Com esta nova globalização, podemos verificar quem ganha e quem perde neste jogo do "mata mata". Numa investigação policial costuma dizer-se: "sigam o rasto do dinheiro e encontrarão os culpados." Aqui, basta ver "para que lado corre o rio", para sabermos a quem interessa a globalização e se ela é sinónimo de desenvolvimento para todos, como se apregoa aos quatro ventos. Para já o modelo seguido, parece que estoirou na boca dos progenitores. É claro, agora, todos temos de pagar a colagem dos cacos.

Vejamos o que diz Anthony Giddens:

“A globalização está a desenrolar-se de forma assimétrica. O impacto da globalização é sentido de forma diferente [nas diferentes partes do mundo], e algumas das suas consequências não são de todo benignas. Lado a lado com o acumular de problemas ecológicos, o aumento das desigualdades entre as várias sociedades é um dos maiores desafios que o mundo enfrenta nos primórdios do século XXI. (…)

A vasta maioria da riqueza mundial está concentrada nos países industrializados ou ‘desenvolvidos’, ao passo que os países do ´terceiro mundo´ sofrem de pobreza generalizada, sobrepopulação, sistemas deficientes de prestação de cuidados de saúde e educação, e pesadas dívidas externas. A disparidade entre o mundo desenvolvido e o mundo em vias de desenvolvimento tem aumentado a um ritmo contínuo durante os últimos vinte anos, sendo hoje maior que nunca.

O Relatório de Desenvolvimento Humano de 1999, publicado pelas Nações Unidas, revelou que o rendimento médio do quinto da população mundial que vive nos países mais ricos é 74 vezes maior que o rendimento médio do quinto da população mundial que vive nos países mais pobres. No final da década de 90, 20% da população mundial era responsável por 86% do consumo total mundial, 82% dos mercados de exportação e 74% das linhas de telefones. (…) Os bens dos três bilionários mais ricos do mundo ultrapassam a soma dos Produtos Internos Brutos (PIB) de todos os países menos desenvolvidos e dos 600 milhões de pessoas que neles vivem.

Em grande parte do mundo em vias de desenvolvimento, os níveis de produção e crescimento económico registados durante o último século não acompanharam a taxa de crescimento da população, enquanto o nível de desenvolvimento económico nos países industrializados a ultrapassou de longe. Estas tendências contrárias conduziram a uma acentuada separação entre os países mais ricos e os mais pobres do mundo. A distância entre os países mais ricos e os países mais pobres traduzia-se em 1820 na proporção de 3 para 1, de 11 para 1 em 1913, de 35 para 1 em 1950 e de 72 para 1 em 1992. Durante o último século, o rendimento per capita no segmento mais rico da população mundial quase sextuplicou, enquanto no segmento mais pobre o aumento não chegou a triplicar.

A globalização parece exacerbar esta tendência, ao concentrar ainda mais o rendimento, a riqueza e os recursos num pequeno número de países.”

Quota do PIB mundial em 1997:

Países mais ricos (20% do total de países)

86%

Países médios (60% do total de países)

13%

Países mais pobres (20% do total de países)

1%

 Quota de utilizadores da Internet em 1997:

Países mais ricos (20% do total de países)

93,3%

Países médios (60% do total de países)

6,5%

Países mais pobres (20% do total de países)

0,2%

Anthony Giddens, Sociologia, 5ª edição, F. C. Gulbenkian, 2007




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