25 Abril


O que comemoramos hoje? Uma data em que o regime ditatorial de Salazar/Marcelo Caetano foi derrubado. Foi conquistada a democracia.

O que temos hoje? Uma democracia doente. Os partidos monopolizam a intervenção política, o PSD e o PS monopolizam a distribuição de cargos e benesses partidárias e individuais.  Há quem sinta a democracia não como regime do povo, pelo povo e para o povo, com a maior participação possível dos cidadãos, em particular através de partidos, seu fundamental instrumento, mas um regime em que os partidos parecem deixar de ser instrumentos para ser fins em si mesmos. Mais, em que os partidos querem monopolizar ou dominar toda a intervenção política, e dois deles, PSD e PS, sublinhe-se, que sós ou acompanhados, há mais de 30 anos exercem o poder - rotativamente, excepto no período em que se juntaram no "bloco central".

PS e PSD entendem-se, ou conluiam-se, para a concentração do poder nas suas mãos e combatem-se para a sua partilha - sem prejuízo de haver quem nos dois partidos recuse, sem êxito, essa lógica.

Democracia formal temos: vamos votar quando nos mandam para que aqueles que elegemos nos tratem, em seguida, com os tiques de ditadores (quem não é por mim é contra mim).

Onde está a democracia económica? E a Justiça (com letra maiúscula)? E a Educação de qualidade (para rebentar com a "Reprodução Social")? Porque se privatizam os lucros das empresas e se nacionalizam os prejuízos?

O que comemoramos hoje dia 25 de Abril, 35 anos depois? Pois é, resta-nos a nostalgia - é pouco, é nada.

Por isso concordo com o Baptista Bastos: A Revolução falhou.

[Comemoramos] O "dia inicial inteiro e limpo" [Sophia de Mello Breyner]? Mas que resta desse dia? As ruínas de uma história que se perdeu nela própria. A avenida encher-se-á, como de hábito, e os discursos, no Rossio, alegres e decididos, dissimulam a melancólica gravidade de uma peregrinação que se faz por uma memória feliz, tornada triste e antiga.
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Ocultamos a dor do que perdemos, é isso. A multidão reflui, gritando estribilhos antigos, miméticos e elementares. "Fascismo nunca mais!" "O poder está no povo!" "Os ricos que paguem a crise!" Animamos a nossa profunda descrença, com a ressurreição nostálgica de um tempo delido que vai ficando efeméride.
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Fomos envelhecendo e agarramo-nos à data como quem não quer extraviar-se da irremediável perda da juventude. Porque éramos todos muito novos; ou, pelo menos, muito mais novos. Olhamo-nos, saudamo-nos uns aos outros, joviais e excessivos. Porém, pertencemos a outra história. Festejamos o dia como se o dia representasse a rapariga, a festa, a alacridade e as cores da adolescência. A rapariga já não possui segredos, a festa emudeceu, a alacridade acabrunhou-se, as cores oscilam entre a metáfora e o que imaginamos.


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