O Pântano


João Paulo Guerra escreveu no "Diário Económico", este texto que passo a disponibilizar.


"O MUNDO ESTÁ EM CRISE mas Portugal consegue estar pior. Não apenas porque seguiu políticas mais erradas, conduzidas por convencidos e arrogantes apregoadores de banha da cobra, mais papistas que os Papas do neoliberalismo, mas acima de tudo porque a delinquência financeira atingiu um grau de generalização, descaramento e impunidade difíceis de igualar.
O elenco de protagonistas dos "casos" que inundam o noticiário do país conduz à inevitável conclusão que o pântano tem uma pré-história, anterior à célebre frase de despedida de António Guterres, tal como tem sequelas, desenvolvimentos e cenas dos próximos episódios. Guterres só fez o ponto da situação em 2001. Mas o pântano vinha de trás e seguiu em frente. Tem antecedentes e consequentes, tal como tem figuras pardas e eminências que atravessam todo o enredo, uns atolados até aos cabelos, outros simplesmente salpicados pelo lodaçal.
Extraordinário, em tudo isto, é o silêncio que cobre o pântano e respectivas adjacências, apesar da vozearia afónica que tenta fazer-se ouvir. Dá ideia que uma conspiração de silêncio procura evitar que despertem os ecos do pântano. Próceres do situacionismo, que falam por tudo e por nada, e sempre, e muito, perante o pântano olham para o lado, sussurram banalidades e mudam de assunto. Há em todo este cenário um sinal exterior de irreversível decadência. Os bolores do pântano, do atoleiro, tomaram conta da situação."
João Paulo Guerra no «DE» de 6 de Abril de 2009

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