Há textos sem idade. É o caso deste, escrito em 2001, por Maria de Lourdes Pintasilgo.
Há nomes (é o caso deste) que nunca mais deveriam ser atribuídos. Os seus novos possuidores nunca os vão conseguir preencher, mesmo que desempenhem altos cargos nesta "província" à beira-mar plantada.
"Sem a Matemática não há hoje nenhum domínio do pensamento que possa ser entendido, Na base da Física, da Biologia, da Sociologia, da Música, da Pintura. das Ciências da Linguagem, a Matemática circula como princípio ordenador das formas. No mundo do caos como ciência (realidade não predestinada, sempre a auto-organizar-se e a ser construída), surge a Matemática a clarificar, a tornar inteligível a desordem dos processos naturais e sociais. Só pela Matemática se torna possível ordenar o caos."
"Fala-se de rigor de exactidão. Onde encontrar essas condições da qualidade do trabalho se a estrutura matemática do pensamento for inexistente ou precária? Mais: como o entenderam os clássicos, as virtudes não se forjam fora da exigência de rigor da lógica. Antes de serem valores morais, as virtudes são um ordenamento do ser em equilíbrio consigo próprio e com o universo que o rodeia. Por isso, o rigor tanto se exprime nas tecnologias contemporâneas como na evolução da música ou na pintura de Picasso ou de Vieira da Silva."
"A sua aprendizagem requer disciplina, esforço, imaginação. É preciso revelar a verdade simples escondida em cada expressão matemática complexa. Um grande físico, o prof. António da Silveira, pedia-nos que demonstrássemos uma teoria física. Eram muitas vezes difíceis essas demonstrações. Quando julgávamos ter chegado ao fim, ele mandava apagar o quadro e, secamente, perguntava: «Isso tudo que acaba de demonstrar o que quer dizer?» Era a qualidade para além da quantidade, era o fenómeno para além da fórmula, era o significado para além do significante."
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